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[ Relações de trabalho na pandemia - Inovações e Teletrabalho ]

05/03/2021

Escrito por: Marcos A. Melo 

 

O advento da Pandemia, que acometeu nosso País e o Mundo, à partir de março de 2020, alterou substancialmente as relações de trabalho até então vigentes, acelerando as mudanças que estavam prevista apenas para um futuro distante.

 

Antes da Pandemia, aqueles colaboradores que se ativavam em uma determinada Cidade, mas residiam em outra, se deslocavam freqüentemente para o trabalho e cumpriam sua jornada laboral diária, retornando para suas casas ao final de cada dia. À partir de março de 2020, foi necessário a adoção do chamado home Office, ou teletrabalho, devido ao isolamento social adotado pelas Autoridades para conter a disseminação do novo coronavírus.

 

Surgiu, portanto, a necessidade de adaptação prematura de alguns profissionais que atuavam de forma presencial e passaram a laborar de forma remota, tendo que aprender a usar as ferramentas de conference call para adaptar a comunicação em tempo real, trabalhar com agenda e adaptar os móveis e equipamentos de sua casa, para um bom desempenho de suas atividades.

Com a adoção do chamado novo normal, ou seja, novos hábitos de segurança sanitária e distanciamento social, muitos trabalhadores que estavam em casa tiveram que voltar, mesmo que em esquema de revezamento, para seus locais de trabalho, trazendo então, uma modalidade híbrida de prestação de serviços.

 

Com boa parte das empresas adotando o home office (teletrabalho) de forma integral ou híbrida (dias em casa e dias na empresa), é preciso seguir medidas para que empregadores e trabalhadores sejam beneficiados. 

 

Para que a modalidade de teletrabalho tenha êxito e produtividade, é necessário que o trabalhador tenha uma boa gestão de tempo e compromisso na entrega dos resultados. Afinal, ele não terá seu tempo fiscalizado à semelhança de estar presencialmente na empresa. Este tipo de fiscalização, para ver se a pessoa está na sala, não condiz com as empresas do século XXI, tampouco com a geração millennials em diante, que tem como relevância o engajamento com propósito no trabalho.

 

Diante deste novo contexto, a liderança deve se adaptar para engajar e distribuir tarefas  de forma disruptiva. Delegar e supervisionar o trabalho com o uso de ferramentas digitais e ter um viés comportamental para conhecer o teletrabalhador. A empresa deve mudar a cultura organizacional para sobreviver e ser ágil nas suas deliberações e inovações.

 

Para atingir uma efetividade e produtividade, o teletrabalhador deve ter respeitado os horários de descanso e lazer, muito embora esteja conectado com a empresa. O gestor deve ter preparo para saber que sua equipe não está disponível a qualquer tempo, sob pena de vir a empresa responder por danos à saúde do trabalhador, em especial as doenças mentais, como síndrome de Burnout, depressão e dano existencial.

 

Esta nova modalidade de trabalho requer um engajamento superior do empregado, sendo necessário que tanto a Empresa quanto o Empregado tenha uma lealdade e confidencialidade, já que todas as informações estão armazenadas na “nuvem” e o acesso deve ser limitado entre o colaborador e a Empresa.

 

Para que o labor em home office ocorra de forma segura, é preciso que haja a devida adequação à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, que começou a vigorar em setembro de 2020. Esta Lei disciplina a proteção de dados pessoais e a salvaguarda dos direitos fundamentais de liberdade e de privacidade, de modo que as empresas não poderão ter dispositivos para rastrear o indivíduo inclusive nos momentos em que estejam no seu lazer e privacidade. As reuniões devem ser compatíveis com horários de intimidade e horários dedicados à família, portanto, o diálogo, treinamento e orientações são salutares para todos.

 

A transformação digital nas relações de trabalho veio para mudar paradigmas, em especial nas funções afetas a área administrativa, sendo certo que, o que funcionava antes, não irá funcionar pelos próximos anos. Com este novo panorama socioeconômico, não são apenas produtos e serviços que se modificam, inclusive indústrias inteiras estão sendo desafiadas por novos modelos de negócios. 

 

Segundo estudo realizado pela Empresa Cushmam&Wakefield Consultoria Imobiliária,  40,2% das empresas que não adotavam o home office antes da pandemia e que o fizeram para cumprir a determinação de isolamento social, vão adotá-lo de forma definitiva quando esse período passar. O mesmo estudo apontou que 45% das empresas entrevistadas reduzirão o espaço físico pós-crise e 30% delas o farão pelo sucesso do teletrabalho empregado. Os 15% restantes se darão devido aos efeitos econômicos da pandemia.

 

O que deve ocorrer nos próximos anos, é que as Empresas avançarão mais ainda em seus modelos de negócios, para novas relações de trabalho. É fato que, no início, o teletrabalho causou estranheza, pela falta de contato físico com os colegas do trabalho, mas em termos práticos, pela atividade tecnológica desenvolvida, o impacto será zero. As ferramentas tecnológicas usuais na Pandemia, serão aperfeiçoadas e tornadas habituais, como reuniões e atendimentos remotos, já que essa é a nossa nova realidade.

 

Essa nova experiência, acelerou a idéia do empresário de ter mais colaboradores de forma remota ou em modo híbrido, sobretudo para aqueles que tem algumas restrições médicas e por conta de seus familiares, os quais vão continuar trabalhando de casa e outra parte da equipe,  dentro da empresa, tomando todos os cuidados.

 

A tendência de mudança, a médio prazo, é a adoção deste modelo híbrido, mas os encontros presenciais ainda são fundamentais, sendo que os profissionais que podem desempenhar suas funções em casa eventualmente irão ao escritório para outras atividades presenciais. É extremamente importante que existam esses encontros físicos em alguns momentos, já que o ser humano é um ser social, e precisa estar em contato com outras pessoas. 

 

Uma desvantagem na adoção do home Office é a falta de interação pessoal, que pode ser suprida pela adoção do modelo híbrido, permitindo que o colaborador, que detectar a necessidade de ir até o local de trabalho, possa fazê-lo eventualmente. Para os que moram na Grande São Paulo, o tempo de deslocamento normalmente é longo e a adoção do home office traz a vantagem de suprimir esta necessidade de deslocamento.

 

Um dos pontos mais favoráveis para a adoção do home office é a produtividade, já que estudos demonstram que o trabalho digital produz mais resultados, permitindo otimizar mais o tempo, ser mais produtivo e trabalhar sem o stress e gastos com deslocamento.

 

É certo que trabalhar de casa exige um local ergonomicamente adequado, sendo muito importante que esses espaços de trabalho sejam adequados para que a pessoa possa estar bem e produzir de forma saudável. É necessário escolher bem o local de trabalho, sendo ideal que esse ambiente seja exclusivo para a atividade. Quando isso não é possível, o bom é escolher locais onde tenha possibilidade de evitar as demais distrações domésticas, com luz natural, acesso a uma janela é o ideal para manter o nosso relógio biológico, assim como a renovação do ar e uma climatização adequada, além de uma cadeira e mesa compatível ergonomicamente com o trabalho realizado.

 

Enquanto não há vacinas suficientes para toda a população, as Empresas seguem com o modelo híbrido, já que a rotina de “bater ponto” diariamente, ainda deve demorar para voltar, sobretudo para os trabalhadores de escritórios. Paralelamente, os hábitos de higiene, segurança e relações devem ser adaptadas ao “novo normal”, como é chamado o mundo pós-pandemia, sendo que a preocupação com a saúde e a segurança das pessoas deve continuar.

 

Além das adequações físicas e digitais, os líderes devem ficar atentos aos novos modelos de relação de trabalho. “O século XXI traz nova dinâmica social entre empresa e trabalhador, cabendo aos líderes se atentarem ao cenário digital para que possam inovar e ter alta performance para equipe e desenvolver a liderança disruptiva.

 

Marcos Melo

 

Advogado especializado em Direito Trabalhista.